Polilaminina: descoberta brasileira abre nova frente de esperança para lesões medulares
Entenda o que é a polilaminina, como age na medula, resultados em pacientes, próximos testes clínicos em SP e o que falta para chegar...

Um candidato a medicamento criado no Brasil — a polilaminina — tem apresentado resultados promissores para pessoas com lesão medular, incluindo casos de paraplegia e tetraplegia. Em testes experimentais e em um estudo piloto com humanos, pacientes voltaram a movimentar membros após a aplicação precoce do composto na medula espinhal, acompanhada de fisioterapia. Ainda é tratamento experimental, mas já se movimenta para fases clínicas mais amplas no país.
O que é a polilaminina
A polilaminina é uma forma polimérica da laminina — proteína da matriz extracelular crucial na formação do sistema nervoso — recriada em laboratório e obtida a partir de placenta humana, tecido normalmente descartado após o parto. A equipe liderada pela bióloga Tatiana Coelho de Sampaio (UFRJ) pesquisa a molécula há mais de duas décadas, aperfeiçoando um material que, uma vez aplicado, forma uma “malha” que orienta neurônios e favorece reconexões no local lesionado.
O que os estudos mostraram até agora
Estudo piloto em humanos (fase inicial): um pré-print de fevereiro de 2024 relatou que 6 de 8 participantes (75%) com lesões agudas graves recuperaram controle motor voluntário (conversão na escala ASIA), um patamar acima do esperado para a evolução espontânea. O trabalho indica maior benefício quando a aplicação ocorre nos primeiros dias após o trauma, com reabilitação intensiva subsequente. (Resultados preliminares, ainda sem revisão por pares.)
Relatos/entrevistas recentes no Brasil: veículos nacionais destacaram casos de pacientes que voltaram a mexer dedos, caminhar com auxílio e recuperar funções ao longo de meses, reforçando o potencial da terapia e o papel crítico do tempo de aplicação (ideia de janela terapêutica nas primeiras 24–72 horas).
Veterinária (modelo natural de doença): em agosto de 2025, estudo longitudinal com cães paraplégicos crônicos reportou melhora de marcha após protocolo com polilaminina, sugerindo efeitos também em lesões antigas e apoiando investigações clínicas adicionais.
Como é aplicada
Nos protocolos experimentais, a polilaminina é injetada diretamente na medula durante procedimento neurocirúrgico. Reportagens que acompanharam a equipe descrevem doses muito baixas (≈ 1 µg/kg) e janela de até 6 dias do trauma, com uma única aplicação seguida de fisioterapia. Até aqui, não foram associados eventos adversos de longo prazo ao fármaco nos casos acompanhados, mas a amostra ainda é pequena e o seguimento, limitado.
Onde será testada agora
Após autorização da Anvisa, a próxima etapa de testes (fase clínica subsequente) deve ocorrer em hospitais de São Paulo, com a AACD responsável pela reabilitação e o Hospital das Clínicas da USP participando das cirurgias, em parceria com o laboratório Cristália, responsável pela produção do insumo sob padrões farmacêuticos.
O que especialistas destacam
Janela de oportunidade: quanto mais cedo a aplicação após o trauma, maior o potencial de neuroproteção e regeneração; em lesões crônicas, os ganhos tendem a ser mais modestos e lentos, embora estudos em andamento investiguem ajustes de dose e repetição
Apoio institucional: a pesquisa conta com fomento público (como a FAPERJ) e cooperação universidade-indústria para escalar a produção e sustentar os ensaios clínicos.
Alternativa a células-tronco: a equipe aponta a polilaminina como uma via potencialmente mais previsível e acessível do que terapias celulares em estágios similares de desenvolvimento, embora comparações formais ainda precisem de ensaios controlados.
O que ainda falta saber
Eficácia em larga escala: é preciso confirmar os achados em ensaios randomizados e controlados, com amostras maiores e desfechos funcionais padronizados.
Dose/repique e cronificação: estudos devem definir dose ótima, possibilidade de reaplicação e benefícios em lesões crônicas.
Acesso regulatório: mesmo com resultados positivos, a disponibilidade clínica depende de todas as fases de pesquisa e da aprovação regulatória final.
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